Pará, o campeão nacional de trabalho escravo
Opinião
Estima-se
que existam hoje no Brasil cerca de 30 mil trabalhadores submetidos
a condições de trabalho escravo. Destes, 70% estariam
concentrados no Estado do Pará, o que confere ao nosso estado
o triste título de "campeão nacional de trabalho
escravo". A maioria das ocorrências de trabalho escravo no
Pará foram localizadas, particularmente, em São Félix
do Xingu e Santana do Araguaia, mas também em outros municípios
do sul e sudeste do estado.
Segundo
estatísticas do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2000
foram registrados no Brasil 465 casos de trabalhadores escravos libertados
após denúncias, em 2001 foram 2.416 casos e em 2002, 4.143
casos. No ano passado, foram 5.659 trabalhadores rurais, sendo 2.546
somente no estado do Pará.
O trabalho
escravo contemporâneo pode ser caracterizado como aquele em que
o empregador sujeita o empregado a condições de trabalho
degradantes e o impede de desvincular-se de seu "contrato".
A retenção
de salários, a violência física e moral, a fraude,
o aliciamento, o sistema de acumulação de dívidas
(principal instrumento de aprisionamento do trabalhador), as jornadas
de trabalho longas, a supressão da liberdade de ir e vir, o não-fornecimento
de equipamentos de proteção, a inexistência de atendimento
médico, a situação de adoecimento, o fornecimento
de água e alimentação inadequadas para consumo
humano, entre outros, são elementos associados ao trabalho escravo
contemporâneo.
Pode-se
apontar que é na forma histórica de ocupação
e de exploração do campo brasileiro e particularmente
da Amazônia que se encontram as principais causas do trabalho
escravo contemporâneo. E se a reforma agrária deve ser
entendida como a ferramenta mais eficaz e duradoura para o combate ao
trabalho escravo, diferentes outras ações devem ser desenvolvidas.
Desde
o ano passado, quando foi deflagrada a Campanha Estadual pela Erradicação
do Trabalho Escravo, vêm sendo empreendidas em nosso estado diferentes
ações, fiscalizatórias, repressivas, educativas
e assistenciais que convergem para o objetivo de erradicação
do trabalho escravo. A UFPA tem participado da coordenação
desta campanha produzindo materiais educativos, desenvolvendo ações
de pesquisa (constituindo um banco de imagens e sistematizando a produção
bibliográfica existente sobre o tema), promovendo ações
educativas, organizando uma publicação e empreendendo
outras ações específicas, como o encaminhamento
de produção de um filme curta-metragem focando o tema,
além de articular-se às demais ações da
campanha.
Muitas
são as tarefas e atividades possíveis de serem desenvolvidas
pela comunidade acadêmica da UFPA. Muitos são os dados
existentes que precisam ser organizados e analisados, à luz da
pedagogia, da sociologia, da psicologia, da assistência social,
das ciências jurídicas, da medicina, da economia, enfim,
das diferentes disciplinas que podem ajudar a explicar e, assim, combater
a prática do trabalho escravo em nosso estado.
Fazemos
um convite, portanto, à comunidade universitária para
que se mobilize em torno deste objetivo que tem o significado de luta
contra a mortificação e a degradação humana.
Liberar
o homem da escravidão pelo trabalho e o trabalho do significado
de mortificação e tortura faz parte de uma pauta mais
ampla de conquistas sociais tendo em vista a ressignificação
desta atividade que tem a função histórica de promover
o homem como ser autônomo, criativo e de solidariedade.
Fonte: Ronaldo
Marcos de Lima Araujo
Professor da UFPA(rlima@ufpa.br)
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