O rio que alimenta o maior Delta das Américas pede socorro. O Parnaíba está contaminado por esgoto. Seus afluentes chegam assoreando e poluindo. O rio vem perdendo volume de água e navegabilidade. Um homem está tentando salvar o rio. O juiz Marlon Reis é um dos responsáveis pelo Centro de Defesa das Nascentes do Parnaíba, o Cedepa.Ele reuniu, em uma balsa, ambientalistas, geólogos, biólogos e engenheiros. Gente preparada para fazer uma radiografia completa dos problemas do velho monge. “Podemos destacar a questão do desmatamento, uma vez que não se vem observando o mínimo de racionalidade no corte da vegetação que margeia o rio”, diz o juiz. Durante um mês, eles vão descer o rio, anotando e observando cada curva do Parnaíba. Acompanhamos esta aventura. Logo no início, cruzamos com uma estranha balsa. João Batista é um balseiro do Parnaíba, um navegante típico desse rio. Com uma balsa bem rústica, levando o filho e até o cachorro, passa o dia todo pelo rio. A embarcação foi construída com talos do buritizeiro, tábuas e cipó. Tudo amarrado, para seu João não ficar no meio do caminho. Ele vai levantar uma cerca na cidade de Uruçuí. Está navegando em cima do material que vai usar na construção. “A gente corre perigo, pega correntezas que levam a gente para debaixo das moitas. Às vezes, a balsa vira e a gente perde tudo que tem em cima”, conta seu João. Descendo o rio, encontramos a Nova Iorque do Maranhão. Sem estátua, sem arranha-céus, a pequena cidade é a porta de entrada da Barragem de Boa Esperança. É com certeza um dos lugares mais bonitos da viagem. A parte alagada criou ilhas e transformou as árvores em esculturas. O reflexo na água do rio transforma as cores do céu: o vermelho, o amarelo e o azul e as nuvens que roubam as cores da represa. Agora, a força do Parnaíba vai virar energia. A usina de Boa Esperança tem a capacidade de gerar mais de 235 mil quilowatts. Neste mundo de água – cinco bilhões de metros cúbicos – o homem se esqueceu do principal. Com a construção da barragem, os peixes foram impedidos de subir para desovar. As embarcações também foram impedidas de transpor o paredão no meio do rio e a eclusa que seria a solução está completamente abandonada. Uma obra que nunca foi concluída. Bloquearam a passagem natural dos peixes e dos barcos e desperdiçaram o dinheiro público.
Sem eclusa, a balsa da expedição vai ser levada de caminhão. Manobra difícil. O caminhão entra na barragem, até que a carroceria fique completamente encoberta pelas águas. Agora, a balsa manobra e fica em cima do caminhão. A viagem até o outro lado do rio é curta e perigosa. Qualquer movimento brusco, a balsa pode cair. O caminhão carrega lentamente o barco, até encontrar um ponto ideal para o desembarque. Vencida a grande barreira, o barco é transportado sobre a Barragem de Boa Esperança e volta ao Parnaíba. A expedição vai rumo ao Delta. No meio do caminho, o Parque Nacional de Sete Cidades. Há rochas, mas parecem ruínas de uma antiga civilização. Estranhos monumentos talhados pelo vento e pelas águas da chuva. Nesse mundo mágico, mais um rio brasileiro está nascendo. Ele vai lançar suas águas no velho monge. O Parque Sete Cidades tem 22 nascentes que formam cachoeiras. Toda essa água vai para os afluentes do Rio Parnaíba.A balsa de excursão chega ao Delta. Seus tripulantes conhecem agora todas as curvas e problemas do rio. “A avaliação é muito positiva e o maior ponto favorável foi o contato humano. O contato com a comunidade ribeirinha foi o que mais marcou”, comenta o juiz Marlon Reis. Ele conta os problemas e as belezas do Parnaíba. Sabe a importância de não deixar que a poluição e o descaso acabem com o Velho Monge.
Fonte:Globo Repórter -Rede Globo Sos
Ano de 2001
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