quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Rio Parnaíba: O Velho Monge Agoniza



  A história das civilizações está sempre ligada à vida a beira de algum rio: o Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia; o Ganges e Indo, na Índia; o Nilo, no Egito; o Mississipi e Colorado, nos Estados Unidos. No caso do Nilo, sua importância era tão vital para os egípcios, que se dizia ser o “Egito uma dádiva do Nilo”. Embora o Piauí também seja uma dádiva de um rio e dos seus afluentes - o Parnaíba, o piauiense não dá importância para essa fonte de vida. Segundo especialistas, o rio não viverá mais do que trinta anos, se nada for feito em prol da sua preservação.

  Para os índios, os nossos rios eram fontes de alimentação e o seu principal motivo de lazer. A história da colonização do Piauí começa com a chegada de sertanistas atraídos pela perenidade do Parnaíba, com a intenção de desenvolver a pecuária, uma vez que, o litoral e as zonas mais próximas se destinavam a cultura da cana-de-açúcar, atividade que não combinava com o boi solto. No Piauí, seus campos de capim mimoso facilitaram essa cultura, e assim, a capitania se tornou o criatório de gado bovino, abastecendo o Brasil-Colônia e a Metrópole, de couro e carne, e de animais de tração. O boi era de pequeno porte e dotado de cornos desenvolvidos chamado piauí. Fazer piauí, na linguagem dos vaqueiros, era levantar e torcer o sabugo da cauda de um boi, para derrubá-lo ou encostá-lo ao mourão, a fim de ser facilmente ferrado. O Piauí se fez pela criação de gado, e a criação de gado, se fez pelo rio Parnaíba e seus afluentes.


  Apesar de ser um rio federal, o Parnaíba é um rio quase que piauiense, pois tem 75% de sua bacia hidrográfica no Piauí, ocupando 99,39% da área do estado. A maioria dos seus afluentes está em terras piauienses. Já no século XVIII, muitos percebiam a importância econômica do rio Parnaíba. Em 1814, Baltazar de Sousa Botelho de Vasconcelos foi o primeiro governante a subir este rio. De viagem a Oeiras, onde assumiria como governador, percebeu o isolamento da capital, e propôs a mudança da sede do governo do Piauí, para as margens do Parnaíba. Em 1844, o então presidente da província, Zacarias de Góis e Vasconcelos, em assembléia, deu início à idéia da navegação do rio Parnaíba, considerando como “a necessidade mais urgente do Piauí”. Com a criação da Companhia de Navegação do Rio Parnaíba, constituída em 1858, o Piauí se tornou grande exportador de produtos vindos do extrativismo, e chegou a ocupar o 7º lugar entre os estados brasileiros em valor de exportação. Até a primeira metade do século XX, o rio foi a nossa estrada líquida, que promoveu, principalmente, o desenvolvimento das cidades ribeirinhas, com destaque para a cidade de Parnaíba, entreposto de exportação e importação.


  Mesmo com a sua importância histórica, sendo fonte de vida para piauienses, maranhenses e por muitas vezes, salva vidas nas secas do Nordeste, o rio Parnaíba vem, há muito, sendo desprezado. O primeiro golpe veio com a desativação dos órgãos que cuidavam do rio, como a Companhia de Portos, Rios e Canais, e DNPVN – Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis. O segundo golpe veio com a barragem de Boa Esperança. Ao contrário do que seu nome sugere, este barramento do rio, que deu origem a Usina Hidrelétrica Marechal Castelo Branco. Inaugurada em 1970, foi outro duro golpe para o Velho Monge. O projeto não respeitou o Código das Águas, de 1934, que estabelece que o barramento projetado para aproveitamento da energia hidráulica deve satisfazer também as exigências de navegação, irrigação, conservação, livre circulação de peixes, perenização do rio e proteção contra inundações. A barragem de Boa Esperança seccionou o rio, para os peixes e barcos, comprometendo toda sua preservação. Não tem se quer, escada de peixe, nem eclusa. Para essas correções, a bacia do Parnaíba não pode continuar sendo objeto-penduricalho da CODEVASF, tem que ter a sua própria companhia.


  Assim, com a contribuição do homem, com os desmatamentos, queimadas, destruição da mata ciliar, poluição pelos esgotos, assoreamento, o rio agoniza e clama por socorro. Com o assoreamento do leito do rio, o Parnaíba, onde o índio pescava com a mão, deixou de ser um rio piscoso. Nem a sua principal área de preservação não é respeitada, pois o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, com mais de 700 mil hectares, ainda não está instalado, está apenas criado no papel, desde 2002. A área das nascentes é o berço do maior rio genuinamente nordestino, um patrimônio brasileiro protegido pelo Código Penal. No Parque das Nascentes, estão os riachos formadores do Parnaíba, como o Água Quente, Surubim, Lontras, Uruçuí Vermelho e Parnaibinha.


  Mesmo estando bem representado nas Armas do Piauí, hino, brasão e bandeira, o rio Parnaíba não tem a atenção, dos piauienses e dos brasileiros, para o pedido de socorro que o Nilo Piauiense pede. Além de fonte de vida, ele poderia ser a nossa redenção econômica, através da navegação, da irrigação, da piscicultura, do turismo, e de outras atividades. O rio Parnaíba ainda é a principal justificativa para a conclusão do tão sonhado porto de Luís Correia, através da produção de alimentos e com a restauração da sua navegabilidade. Como o rio Mississipi, nos Estados Unidos, onde se escoa grande produção de grãos, o rio Parnaíba pode deixar os nossos produtos competitivos, transportados por um custo módico, através de barcaças.


  Apesar de estarmos sobre um aqüífero, o Piauí deve ter compromisso com os nossos mananciais, com as futuras gerações. Lembrar que a água doce e potável é um bem finito, e já é objeto de grandes debates internacionais. O Piauí deve se juntar ao Brasil e ao Mundo em busca de soluções, das mais avançadas tecnologicamente, para preservar esse patrimônio da humanidade. A água abundante e pura é o sangue da Terra. Salvemos, então, a nossa fonte de vida – o rio Parnaíba!


  A Constituição Federal, no Capítulo VI, Art. 225, Inciso VI:


  “Cabe ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do meio ambiente”; ao “Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.


  Como preservar o Rio:


  É fácil, apenas é necessário desenvolver sua educação ambiental:


  Não faça queimadas; não jogue lixo nas margens dos rios;

  Não desmate as margens dos rios, riachos e córregos;
  Não lance dejetos, animais mortos no leito dos rios;
  Seja um defensor dos rios e avise as autoridades competentes que o rio está sendo maltratado.

  Informações / Alertas:

  IBAMA - linha Verde
  0800 61 8080
  linhaverde@ibama.com.br
 www.ibama.gov.br

 Diderot Mavignier 

  Fonte: http://www.acesso343.com.br/2008/09/rio-parnaba-o-velho-monge-agoniza.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

OBRIGADO PELA VISITA, VOLTE SEMPRE!
UM ABRAÇO!