quarta-feira, 23 de maio de 2012

Miguel Alves: cidade viva, terra feita por mãos e sonhos.


Como podemos narrar em poucas linhas a História de uma cidade? E com essa história homenagear homens, mulheres e crianças que arrebatados pela dor da fome e da tirânica seca colocaram em marcha bravios cearenses em busca da terra prometida.  Uma tragédia real dramatizada pela dor e sofrimento na construção de uma nova civilização.  Pela História do cearense Miguel Alves lançamos um olhar ao arauto de um povo, não como um herói construído por um impecável discurso que oculta defeitos e imperfeições próprio de um ser humano, mas por um homem experimentado nas rudezas da vida e que lia na própria natureza o perigo iminente que ameaçava sua família.
           O que faria um homem desvencilhar-se de sua terra mãe?  Que forças poderosas seriam capazes de romper laços tão tenazes de amor a sua terra? A dor da escassez eu ousaria falar; A extinção da vida e dos meios para a sobrevivência.  Diante de tal panorama o valente cearense inicia sua peregrinação rumo ao desconhecido, porém convicto na busca de um novo recomeço ou de um novo lar. Quem o teria guiado nas paisagens mortas e retorcidas do sertão semi-árido? Poderia até imaginar São Miguel Arcanjo guiando estes intrépidos seres que a cada cidade, vilas e povoados prostravam-se com reverência nas humildes capelas em busca de um momento de paz e refazimento das forças, relembrando a passagem bíblica nas palavras do próprio Deus que os prometera: “uma terra que jorrava leite e mel”.
            Sua jornada o levou a uma terra cheia de riquezas, não daquelas garimpadas pela cobiça e ambição de metais preciosos, mas de tudo aquilo que lhe faltava no semi-árido cearense. Terra do baixo Parnaíba com vegetação exuberante e clima tropical semi-árido e acolhedor. Por onde a vista alcançava a floresta de babaçu e carnaúbas o encantavam e o fazia esquecer-se da flora castigada da terra mãe. Terra de inesgotáveis mananciais, águas límpidas e claras que produzia o húmus da fertilidade nos grandes baixões e nas áreas ribeirinhas. Era preciso braço forte vontade indômita para bem usufruir dos benefícios oferecidos pela nova terra. Passaram-se anos e a noticia de prosperidade daqueles que habitavam esses rincões trouxeram para região novas vitimas da seca, que foram recebidas com alegria e braços aberto pelo cearense Miguel Alves.
           A Região começava a fervilhar de homens e mulheres que empunham a enxada, charrua, foice e o facão, um mundo a ser moldado por sonhos e suor, a nova civilização estava em dores de parto. O pequeno núcleo de povoamento foi crescendo em torno da navegabilidade do Rio Parnaíba,  o pequeno povoado soube aproveitar as condições naturais do rio tornado-se uma cidade portuária que de inicio  recebeu o nome de Porto da Lenha. As embarcações que  subiam e desciam  eram abastecidas de lenhas e mercadorias como arroz, milho, mandioca, algodão e fumo, sendo este último o principal produto  comercializado na região. 
           A passos largos o desenvolvimento foi tornado-se visível na própria região, agora o Arraial de seu Miguel procurava alinhar-se com a nova ordem urbanística declarada pelas exigências do Regime Republicano. A terra não era mais apenas fazendas, mas lentamente tornava-se visível o fenômeno da urbanização. Casas de palhas e de adobo começavam a ceder espaço para as estruturas de alvenarias, ruas eram calçadas, praças surgiam como espaços de lazer e sociabilidades, e a Igreja de São Miguel arcanjo tornava-se a expressão da religiosidade de nosso povo. Como materializar esses eventos? Como da cor a um passado distante e com vozes já silenciadas? Queremos homenagear não um “Homem”, mas uma “Cidade”, mas creio impossível separar o ente Miguel Alves da cidade Miguel Alves, pois o registro de seus atos está impresso em cada fisionomia que conhecemos dos filhos dessa  cidade. Essas  marcas do tempo estão visíveis no rosto de nossos anciões, nas mãos calejadas de nossos agricultores e quebradeiras de coco,  do “aboio” o canto dolente do vaqueiro guiando a boiada, e da arte artesanal dos “enganchos” dos pescadores da beira rio. Esta é a imagem que apreendemos desta terra querida, mas não poderíamos deixar de falar dos filhos desta terra que a exemplo do cearense Miguel Alves transporam os limites geográficos e sociais do Município, Estado e do País, filhos que estão distantes, mas que seus atos enchem de alegria,  orgulho e brilho, distribuídos em diversas profissões, filhos que retornaram e que agora contribuem para uma cidade melhor, filhos que transporam socialmente sem sair da própria terra, filhos de outras terras que foram recebidos de braços abertos.
                  Miguel Alves, Cidade esta que apenas enxergamos como pronta e acabada sem verificarmos suas marcas, cicatrizes, virtudes e defeitos, vitórias e glórias, porque bem sabemos que não só a cidade desenvolve, mas todos  que dela fazem parte, pois a cidade é viva e dinâmica e se move através de nossos atos.  Miguealvenses somos herdeiros dos filhos da Terra da Luz, povo bravo que das circunstâncias adversas criaram um destino profícuo para todos nós. Somos donos de um patrimônio indestrutível moldado no labor incansável de nossos antepassados. Hoje a homenagem é para cada um de nós que fazemos parte dessa cidade, parabéns cidade, pelos seus 100 anos!
Autor: Professor Luciano César

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