Miguel Alves Ponto de Cultura: Rio Parnaíba agoniza com poluição e assoreamento

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Rio Parnaíba agoniza com poluição e assoreamento

Foto:Richarle Tuira

Rio Parnaíba não aguenta mais ser tão maltratado. Em meio ao esgoto que transborda da cidade e o assoreamento, o rio fica cada vez mais raso e poluído. Tão raso que até as barcas que fazem o translado de uma margem para a outra estão tendo dificuldades para encontrar rotas de passeio. As coroas do rio também estão cada vez maiores, denunciando a problema.

As margens do rio, que por sinal também estão encobertas pelo lixo, abrigam uma dezena de pontos de despejo de água suja e esgoto. Os dejetos vêm das casas e repartições públicas, e mostram o quanto a malha de esgoto de Teresina é deficitária. Atualmente, segundo dados da Águas e Esgotos do Piauí S/A (Agespisa), apenas 17% da cidade tem o esgoto tratado.

Segundo o biólogo Jeremias Pereira da Silva, especialista em limnologia (estudo científico de extensões de água doce), o problema é sério. “Em relação a poluição por esgoto, que chamamos de poluição pontual, dependendo do que está sendo lançado, vai influenciar na qualidade da água. Pode ocorrer um acréscimo de nutrientes no rio, especialmente nitrogênio e fósforo”, afirma.

Ao contrário do que muitos pensam, a ausência de aguapés no Rio Parnaíba não quer dizer que o Rio Poti esteja mais poluído. Ambos estão em risco. “Como o Rio Parnaíba tem um curso de água maior, ele não acumula aguapés como o Rio Poti. Mas no esgoto também podem vir materiais perigosos, que podem ser nocivos tanto à saúde humana quanto à saúde dos organismos que vivem na água”, analisa o biólogo.

Jeremias explica ainda que grande parte dos sedimentos que se acumulam no Rio Parnaíba vêm de seus afluentes. “O assoreamento é causado, principalmente, pelo aporte de materiais dos afluentes, dos outros rios. Não adianta apenas recuperar as margens do Rio Parnaíba. Tem que recuperar também os dos principais afluentes, e de toda a bacia hidrográfica do Parnaíba”, avalia.

PESCA COMPROMETIDA

De acordo com Francisco José de Aquino, presidente do Sindicato dos Pescadores de Teresina, já não dá mais para pescar no trecho do Rio Parnaíba que corre por Teresina. “Nós não conseguimos mais pescar no Rio Parnaíba há muito tempo aqui em Teresina. O pescador tem que ir muito longe da cidade para buscar o pescado”, diz.

E enquanto a chuva não vem, a produção fica prejudicada. “Todo ano nesse período de seca prejudica muito. Primeiro porque o rio está muito seco e cheio de areia. Além de estar com muita poluição, o que atrapalha consideravelmente o nosso trabalho. A produção de peixe vem diminuindo muito por causa disso. O jeito é esperar pelas chuvas”, afirma o presidente.

PLANO DE PROTEÇÃO AOS RIOS

Para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar), que é a responsável pelo Rio Parnaíba, existem outras prioridades. “O Rio Parnaíba é o rio mais protegido que existe no Piauí. Existem rios no Estado que estão em situação pior, como o Rio Gurgueia, Rio Piauí, Rio Canindé, Rio Guaribas e Rio Itaim”, declara o secretário Ziza Carvalho.

Ziza garante que o Rio Parnaíba está no cronograma de atividades. “Nós iniciamos com o Rio Piauí, em São João do Piauí, fazendo as áreas de preservação permanente (APP), plantando 3.400 mudas. Levaremos isso a todas as cidades ribeirinhas que estão com os rios degradados. Vamos chegar ao Rio Parnaíba revitalizando as APPs, que são as margens dos rios”, afirma o secretário.

Sobre a poluição, que é consequência da falta de tratamento do esgoto, o secretário afirma que “não é competência nossa”. “Quanto ao assoreamento, temos o plano de revitalização da Bacia do Parnaíba, que é de competência do Governo Federal”, finaliza Ziza Carvalho.
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