sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Filho Pródigo

Imagem relacionada


 Poema do miguelalvense Domingos Martins Fonseca, o Maior Repentista do Brasil.

Cedo deixei a minha terra amada,
Levando n'alma uma saudade ingente,
Julgando em breve transformar-se em nada,
Mas, enganei-me, contínuo ardente
Sendo poeta, não julguei que fosse
Meu peito um cofre de saudade infinda,
Minha esperança ao voltar, findou-se,
Mas a saudade permanece ainda.

Segue meus passos, vai comigo à cama,
Está junto de mim quando desperto;
Sempre ao meu lado, contemplando o drama
Dos viajores sem destino certo.

Moço eu já tenho padecido tanto,
Que a própria vida não me satisfaz;
Meu coração é como um campo santo
Onde só mora quem não vive mais.

Irmãos, irmãs, meu velho pai e minha
Querida mãe, já falecidos são;
Dessa fartura que eu outrora tinha,
Resta-me apenas, a recordação.

Eu sou culpado do que me acontece,
Ninguém minora os sofrimentos meus,
Pois acredito que até Deus esquece
O filho ingrato que abandona os seus.

Guardo em meu peito o mais fiel retrato
De minha terra, meu primeiro abrigo;
Eu reconheço que estou sendo ingrato,
Mas minha "Terra, também foi comigo".

Fez-me partir em lagrimas banhado,
Qual barco errante sem seguro porto,
Razão porque hoje sou um torturado
Por saudade, tristeza e desconforto.

Para não ser meu sofrimento eterno,
Para que chegue ao fim minha agonia,
Tu me prometes teu perdão materno,
E eu te prometo regressar um dia!


COSTA, Pedro; A Maestria do Rei do Repente: Domingo Martins Fonseca. Editora Funcor: 2013. p33

Nenhum comentário:

Postar um comentário

OBRIGADO PELA VISITA, VOLTE SEMPRE!
UM ABRAÇO!